sábado, 31 de maio de 2014

A criatura
 
           
            A tempestade tornava a noite ainda mais escura e assustadora. Raios riscavam o céu de chumbo e a luz azulada dos relâmpagos iluminava o vale solitário, penetrando entre as árvores da floresta espessa. Os trovões retumbavam como súbitos tiros de canhão, interrompendo o silêncio do cenário [...].
            Alimentadas pela chuva insistente, as águas do rio começavam a subir e a invadir as margens, carregando tudo o que encontravam no caminho. Barrancos despencavam e árvores eram arrancadas pela força da correnteza, enquanto o rio se misturava ao resto como se tudo fosse uma coisa só. Mas algo... ou alguém... ainda resistia.
            Agarrado desesperadamente a um tronco grosso que as águas levavam rio abaixo, um garoto exausto  e ferido lutava para se manter consciente e ter alguma chance de sobreviver. Volta e meia seus braços escorregavam e ele quase afundava, mas logo ganhava novas forças, erguia a cabeça e tentava inutilmente dirigir o tronco para uma das margens.
            De repente, no período de silêncio que se seguia a cada trovão, ele começou a ouvir um barulho inquietante1, que ficava mais e mais próximo. Uma fumaça esquisita se erguia à frente, e ele então compreendeu: era uma cachoeira! [...]
            Num pulo desesperado, agarrou o ramo de uma árvore que ainda se mantinha de pé perto da margem e soltou o tronco flutuante, que seguiu seu caminho até a beira do precipício e nele mergulhou descontrolado.
            A tempestade prosseguia e cegava o garoto, o rio continuava seu curso feroz e a cachoeira rosnavabem perto de onde ele estava. De repente, percebeu que a distância entre uma das margens e o galho em que se pendurava talvez pudesse ser vencida com um pulo. Deu um jeito de se livrar da camisa molhada, que colava em seu corpo e tolhiaseus movimentos. Respirou fundo para tomar coragem.
            Se errasse o pulo, seria engolido pela queda-d’água... mas, se acertasse, estaria a salvo. Viu que não tinha outra saída e resolveu tentar. Tomou impulso e [...] conseguiu alcançar a margem. [...]
            Ficou de pé meio vacilantee examinou o lugar em torno, tentando decidir para que lado ir. Foi quando ouviu um rugido horrível, que parecia vir de bem perto. Correu para o lado oposto, mas não foi longe. Logo se viu encurraladoem frente a um penhasco gigantesco, que barrava sua passagem. O rugido se aproximava cada vez mais.
            Estava sem saída. De um lado, o penhasco intransponível; de outro, uma fera esfomeada que o cercava pronta para atacar. Então, viu um buraco no paredão de pedra e se meteu dentro dele com rapidez. A fera o seguiu até a entrada da caverna, mas foi surpreendida. Com uma pedra grande que achou na porta da gruta, o garoto golpeou a cabeça do animal com toda a força que pôde e a fera cambaleou  até cair, desacordada.
            Já fora da caverna, ele examinou o penhasco que teria que atravessar antes que o bicho voltasse a si. [...]
            Foi quando uma águia enorme passou voando bem baixo e o garoto a agarrou pelos pés, alçando vôo com ela. Vendo-se no ar, olhou para baixo, horrorizado. Se caísse, não ia sobrar pedaço. Segurou com firmeza as compridas garras do pássaro e atravessou para o outro lado do penhasco.
            O outro lado tinha um cenário muito diferente. Para começar, era dia, e o sol brilhava num céu sem nuvens sobre uma pista de corrida cheia de obstáculos, onde se posicionavam motocicletas devidamente montadas por pilotos de macacão e capacete, em posição de largada. Apenas em uma das motos não havia ninguém.
A águia deu um voo rasante sobre a pista, e o garoto se soltou quando ela passava bem em cima da moto desocupada. Assim que ele caiu montado, foi dado o sinal de largada.
            As motos aceleraram ruidosamente e partiram em disparada, enfrentando obstáculos como rampas, buracos e lamaçais. O páreo era duro, mas a motocicleta do garoto era uma das mais velozes. Logo tomou a dianteira, seguida de perto por uma moto preta reluzente, conduzida por um piloto de aparência soturna. [...]
Inclinando o corpo um pouco mais, o garoto conseguiu acelerar sua moto e aumentou a distância entre ele e o segundo colocado. Mas o piloto misterioso tinha uma carta na manga: num golpe rápido, fez sua moto chegar por trás e, com um movimento preciso, deu uma espécie de rasteira na moto do garoto.
            A motocicleta derrapou e caiu, rolando estrondosamente pelo chão da pista e levantando uma nuvem de poeira. O garoto rolou com ela e ambos se chocaram com violência contra uma montanha de terra, um dos últimos obstáculos antes da chegada.
A moto negra ganhou a corrida, sob os aplausos da multidão excitada7, e o garoto ficou desmaiado no chão.
            Com um sorriso vitorioso, Eugênio viu aparecer na tela as palavras FIM DE JOGO. Soltou o joystick e limpou na bermuda o suor da mão. [...]

Laura Bergallo. A criatura. São Paulo: SM, 2005. p. 37-44.
LEITURA 2 Romance de aventura

Estudo do Vocabulário

1) Relacione cada palavra da coluna da esquerda com seu significado, na coluna da direita. Consulte o dicionário.
A – intransponível
(   ) voo muito próximo ao solo
B – páreo
(   ) que não pode atravessar, não pode ultrapassar
C – rasante
(   ) fazer eco
D – retumbar
(   ) assustador
E – ruidosamente
(   ) competição, disputa
F – soturno
(   ) barulhento

Estudo do Texto

1) Os textos de aventura costumam ter protagonistas. Personagem principal da história, quem vivencia muitas aventuras e precisa enfrentar conflitos. Em sua opinião, quem é o protagonista do texto? Argumente.

2) Assinale quais descrevem os problemas causados pela insistente chuva?

(   ) As águas do rio começavam a subir e a invadir as margens.
(   ) Como não havia árvores, o terreno desmoronava e aumentava a erosão.
(   ) Doenças eram transmitidas para a população daquele local.
(    ) Barrancos despencavam e árvores eram arrancadas pela força da correnteza.

3) Os textos podem ser narrados de duas formas diferentes.

“ Num pulo desesperado, agarrou o ramo de uma árvore que ainda se mantinha de pé perto da margem e soltou o tronco flutuante” ( 3ª pessoa)

“Num pulo desesperado, agarrei o ramo de uma árvore que ainda se mantinha de pé perto da margem e soltei o tronco flutuante” (1ª pessoa)

Quando um texto está narrado em 3ª pessoa, o narrador é conhecido como:
Agora, se o texto for narrado em 1ª pessoa, no narrador é conhecido como narrador:

a) Observe a frase abaixo, retirada do texto:

“ Ficou de pé meio vacilante e examinou o lugar. Foi quando ouviu um rugido horrível.”
A frase acima está escrita em narrador:

(  ) personagem
(  ) observador

4) O menino vivencia dois cenários diferentes ao longo de seu jogo. Coloque:

1 - para descrições do primeiro cenário.

2 – para descrições do cenário que chega após voar com uma águia.

(   ) Havia muito barulho pela proximidade da cachoeira.
(   ) O rio tinha um curso feroz.
(   ) O sol brilhava.
(   ) Havia barulho de motores.
(   ) A noite ficava ainda mais escura com a tempestade.
(    ) Era um dia sem nuvens no céu.
A caracterização do espaço contribui para a criação do enredo da narrativa de aventura.

ANOTE

O enredo de uma narrativa de aventura é composto das ações das personagens, organizadas em uma sequência de situações.
Essas narrativas, em geral, apresentam a seguinte estrutura.

• Apresentação ou situação inicial: os espaços e as personagens são apresentados em uma situação que pode ser de equilíbrio ou de tensão.

•Conflito: início e descrição dos problemas que as personagens principais serão envolvidas.

• Ações das personagens: são motivadas pela complicação e pelos objetivos das personagens.

• Desfecho ou resolução: ocorre quando a complicação é solucionada.

• Situação final: uma nova situação é estabelecida.

5.  Releia :

" Alimentadas pela chuva insistente, as águas do rio começavam a subir e a invadir as margens carregando tudo o que encontravam no caminho.. Barrancos despencavdm e árvores eram arrancadas pela força da correnteza, enquanto o rio se misturava ao resto como se tudo fosse uma coisa só."

Que impressões sobre o tempo, essa descrição detalhada provoca no leitor?

Nas narrativas de aventura, o suspense prende o leitor ao texto, e a caracterização do espaço pode contribuir para isso.

6.  Releia.

“De repente, no período de silêncio que se seguia a cada trovão, ele começou a ouvir um barulho inquietante, que ficava mais e mais próximo. Uma fumaça esquisita se erguia à frente, e ele então compreendeu: era uma cachoeira! [...]”
Quais informações descritas no texto acima antecipam ao leitor que algo ameaçador se aproxima?

(    ) O barulho inquietante.
(    ) O animal horrível.
(    ) A fumaça esquisita.
(    ) A cachoeira.

7.  No trecho “limpou na bermuda o suor da mão”, o autor quis passar ao leitor a impressão que o jogador estava:

(   ) com calor pelo dia quente.
(   ) tenso pelo jogo.
(   )preocupado com o fim do jogo..
(   ) feliz pela vitória.

8.  Numere os acontecimentos na ordem que aconteceram na história.

(   ) O animal foi golpeado na cabeça com toda força.
(   ) A águia foi agarrada pelos pés.
(   ) Era uma forte tempestade numa noite assustadora.
(   ) Depois de um impulso, a margem foi alcançada.
(   ) Agarrou-se num tronco grosso.
(   ) Depois de dada a partida, todos aceleraram e enfrentaram obstáculos.
(   ) Para fugir da queda, agarrou em um ramos de árvore que ainda estava em pé.

Um comentário:

  1. Como consigo o gabarito????? Meu e-mail é rosichama@hotmail.com, se for possivel, por favor me envie.
    Grata.
    Rosi

    ResponderExcluir