ENCONTRO DE EXTREMOS
Foi uma viagem e tanto.
Mercúrio percorreu rapidamente os quase cinco bilhões de quilômetros que
o separam de Plutão. Isso sem olhar para trás, a uma velocidade de
cento e oitenta mil quilômetros por hora (eu disse “cento e oitenta mil
quilômetros por hora!”), e sem parar, nem para um xixizinho. Foram mais
de mil dias de viagem incrível através do Sistema Solar. Ele levava na
mala o que ainda era um mistério para os planetas – documentos
secretíssimos falando de coisas estranhas e perigosas que estavam
acontecendo no planeta Terra.
Assim que entrou na órbita de
Plutão, Mercúrio olhou para trás. Lá longe está o Sol. Já não lhe
parecida aquele gigante em chamas que o impressionava. Mesmo assim, era a
estrela mais brilhante que ele podia ver daquele ponto do Universo.
Você já deve ter percebido que esta é uma
história de planetas. Para eles, as coisas se passam de maneira um
pouco diferente do que para nós. Por exemplo: quando eu disse que a
viagem de Mercúrio até Plutão foi rápida, quis dizer que foi rápida para
um planeta. Mais de mil dias é um tempo grande para a gente, mas é
pequeno para os planetas, pois eles podem viver bilhões de anos.
Outra coisa diferente nesta
história é que o que é mistério para os personagens (os planetas) pode
não ser mistério para nós. É possível que você saiba quais as coisas
estranhas e perigosas que se passam na Terra. Entretanto, pode ser que
não se lembre. Nesse caso, este livro há de refrescar sua memória.
Mas voltemos a Mercúrio. Como
você deve ter aprendido, trata-se do planeta mais próximo do Sol. Por
isso, os gases flamejantes1 quase
encostam nele. Lá, a temperatura é tão alta durante o dia que, se
houvesse chumbo em sua superfície, derreteria, formando rios e mares
metálicos. Mas, para ser sincero, até que Mercúrio gosta desse
calorzinho. Ainda mais que, à noite, a temperatura cai para – 170º C e
ele se congela.
Nosso herói estava muito
longe de casa. Fazia frio e a temperatura, próxima de zero absoluto (que
é frio mais de todos os frios), era insuportável. Para Mercúrio,
significava resfriado na certa. Acontece que o seu cargo de mensageiro
dos planetas o obriga a cumprir as mais perigosas missões, e não seria
um simples resfriado que o impediria de cumprir mais essa.
Além do mais, resfriado não é novidade. Por causa de seus dias muito compridos e da atmosfera muito rarefeita2,
que não espalha bem o calor, os dias de Mercúrio são quentíssimos, e as
noites, friíssimas. Por isso, mesmo quando descansa em sua órbita, ele
vive às voltas com febre, calafrios, nariz escorrendo etc. Coisas que
quem já teve gripe sabe como são: a gente quer brincar, nadar ou tomar
um sorvete e não pode. No caso de Mercúrio é ainda pior, porque ele tem
alergia a poeira cósmica, o que sempre vira bronquite. Aí, só com
inalação de vento solar.
― Ô de casa! A-a-atchim! – Pronto, estava resfriado. ― Ô de casa! ― repetiu.
Nada.
“Por onde anda Plutão?”, perguntou-se.
Já que Plutão não estava, até
pensou em dar uma olhada além das fronteiras do Sistema Solar. A
curiosidade era grande. Mas não se atreveu porque lembrou do que tinha
acontecido a Netuno. Se um planeta poderoso como Netuno fora tão
terrivelmente afetado, o que aconteceria a ele, o pobre
mensageiro dos planetas?
De repente, tudo escureceu.
Alguém ou alguma coisa passou em frente ao Sol provocando um eclipse
total. Mercúrio entrou em pânico. Tinha que fugir rapidamente. Mas para
onde? Não via nada. Súbito3, um bafo gelado em seus ouvidos arrepiou-lhe todos os meridianos.
― Ei, rapaz... Aonde vai com tanta pressa... Cuidado... Vê se olha por onde anda...
Mercúrio se virou e notou um
fraco mas ameaçador brilho esbranquiçado se aproximando. Era Plutão que
sorria horrivelmente, mostrando dentes pontiagudos de metano congelado. O
mensageiro tremeu nas bases. (...)
Marcelo R. L. Oliveira, Reunião dos Planetas. Editora Companhia das Letrinhas, 2006.
Estudo do Texto
O texto “Encontro de extremos” é um
conto, com narrador e personagens. Há informações que correspondem à
realidade e outras que foram recriadas pelo autor.
1. Esse “encontro” poderia dar-se na realidade? Por quê?
2. Como é o narrador dessa história?
a) Assinale a afirmativa correta.
( ) O narrador observa o que acontece com o planeta Mercúrio sem participar da história.
( ) O narrador é um dos personagens da história.
b) Portanto, qual o tipo de narrador dessa história?
3. “Você
já deve ter percebido que esta é uma história de planetas. Para eles,
as coisas se passam de maneira um pouco diferente do que para nós.”
a) A quem o narrador se dirige neste trecho?
4. “Foi
uma viagem e tanto. Mercúrio percorreu rapidamente os quase cinco
bilhões de quilômetros que o separam de Plutão. Isso sem olhar para
trás, a uma velocidade de cento e oitenta mil quilômetros por hora.”
O motivo da viagem foi:
( ) levar documentos secretos relatando coisas estranhas sobre a Terra.
( ) encontrar Plutão, planeta distante do Sol e trocar informações sobre as temperaturas que vivenciavam..
( ) fugir dos raios flamejantes do Sol, estava buscando temperaturas mais calmas para viver.
( ) dar uma olhada
5. Na sua opinião, quais seriam as coisas estranhas e misteriosas que se passam na Terra? Argumente.
6. Qual a possível consequência de passar por temperaturas frias, segundo o texto?
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